dezembro 23, 2007

"Um dia em que nevou na Trofa" - Fim da I Parte

“-As aulas correram bem, Teresa!



-Correm sempre, não é? – Perguntava o Avô Campos com o seu sorriso de criança.



-Claro! E se fossemos lanchar, Avô?



-Óptima ideia! Vamos lá dentro…já preparei o nosso lanche!



E lá ia Maria com o Avô Campos, para a parte de trás da livraria! Lá no fundo encontrava-se uma sala com vista para um pequeno jardim. Só havia uma mesa e duas cadeiras, rodeadas por livros, que ainda não estavam devidamente identificados para poderem ser vendidos.



Maria adorava aquela sala! Era ali que Maria e o Avô apreciavam o seu lanche enquanto olhavam para o jardim (até mesmo no Inverno, estava sempre bonito!)! E depois, Maria escolhia um livro para o Avô lhe falar um bocadinho sobre ele.



- Hum…estava cheia de fome!



-Fome não! Só tem fome quem não come à três dias!



-Ups! Estava cheia de vontade de comer! – Dizia Maria, saboreando um ultimo bocado do bolo. – Avô…de que fala aquele livro? É tão escura a capa!



-Não ias gostar daquele! É um estudo que um senhor fez.



-Um estudo? Pensava que só se estudava na escola.



-Não, Maria! Há muita gente que estuda, depois de já ter andado na escola.



-E esse livro…é um estudo sobre quê?



-É um estudo sobre as consequências da poluição!



-Já falei muitas vezes sobre isso na minha aula… Para quê falar mais?



-Porque…minha querida, as pessoas crescidas precisam de mais tempo para perceber algumas coisas.



-Porquê avô?



-Porque são crescidas! Não são como tu. Não lhes basta ouvir uma vez para acreditarem. Precisam de números…de estudos!



-As pessoas crescidas são muito estranhas…tu também és assim avô?



-Mais ou menos! Não preciso de números infindáveis para perceber as coisas.



-Fico mais descansada!



-Vamos para casa? Ainda tens os trabalhos de casa para fazer!



-Sim, sim. Vamos! Mas…avô? O que são números infindáveis?



-São muitos números! Números sem fim.”







(continua)






dezembro 17, 2007

"Um dia em que nevou na Trofa"

Após não sei quanto tempo com isto parado, As férias já começaram, o frio já voltou, o Natal está quase quase aí…e eu regressei aqui!



Regresso com aquele livro que (supostamente) era para concorrer a um concurso, mas que se deixou ficar por aqui! Opiniões: querem-se (:







I – A cidade é Trofa, e o ano, é este em que eu e tu vivemos!



11 de Fevereiro, já faz frio lá fora!



O frio está cada vez mais forte, o vento sopra como quem chama pela chuva. As folhas já secas (aquelas que o vento ainda não levou pelo ar), dançam pela beira dos passeios, à espera de serem calcadas por alguém, ou simplesmente fazerem a viagem das suas vidas! A viagem do vento! Mas apesar do vento andar por ali a cantar e a dançar com as folhas, ainda não as levou!



Ainda vão ter que esperar, minhas amigas! - Dizia o vento às folhas. E as folhas, sem nada a fazer, apenas esperam, dançando e cantando pelos passeios ao som do vento! Um dia, ia ser o dia delas. Um dia elas iriam ter direito à sua viagem.



Enquanto isso não acontecia, Maria, depois de mais um dia de aulas, ia calcando as folhas secas que apareciam à sua frente, até chegar à livraria do seu avô.



Desde sempre que gostava de calcar as folhas. Sabia-lhe bem, e sempre que lhe perguntavam porque que fazia aquilo, ela apenas sorria.



Não adianta nada dizer! – pensava Maria. – As pessoas crescidas não percebem que gosto de ouvir o som das folhas! As folhas cantam, e eles não sabem disso!



Todos os dias, depois das aulas, Maria ia ter com o seu avô à livraria. Gostava de andar pelo meio daquelas estantes, já escurecidas pelo passar do tempo, cheias de livros! Depois, escolhia um livro à sorte e pedia ao seu avô para lhe falar daquela história.



Ao fim do dia, já de regresso a casa, lá iam os dois pelo caminho fora a calcar as folhas que ainda restavam!



Em vez de Maria ir directamente para casa, preferia ir ter com o seu avô. Assim, todos os dias podia conhecer um pouco mais do mundo do seu avô. O senhor Campos devia ser a única pessoa que mesmo crescida, continuava a ser pequena por dentro! Percebia sempre as ideias de Maria, ao contrário da sua mãe, que não gostava nada de responder às perguntas de Maria. Com o avô Campos, Maria podia perguntar o que quisesse, que sabia que iria ter sempre uma resposta!



-Olá avô!



-Minha querida! Entra, entra! Está frio aí fora!



-Olá Teresa!



-Então pequenina? Como correram as aulas?



Teresa era a senhora que ajudava o Senhor Campos na livraria. Tinha sessenta e quatro anos, mas a sua boa disposição assemelhava-se à de uma jovem! A sua cara, marcada pelas rugas (sinal de que o tempo também já tinha passado por ela), o cabelo sempre esticado, com um gancho diferente todos os dias. Olhos azuis que faziam lembrar o céu e uma voz doce. Ao contrário de Maria, Teresa era uma pessoa que nunca tinha dúvidas ou perguntas para fazer. (Será que as dúvidas desaparecem, quando já somos crescidos?) Aliás, acho mesmo que posso dizer que Teresa era precisamente o oposto de Maria!



Maria era baixinha, olhos castanhos-claros com uma ponta aqui e ali de verde cor de árvore! O seu cabelo era loiro (Não, não é aquele loiro amarelo! Como o Avô Campos dizia “cabelo loiro, cor de sonho”.), cheio de caracóis a voarem ao sabor do vento! Era raro Maria trazer algum gancho no cabelo. Preferia que os caracóis voassem de um lado para o outro como um pássaro a voar de ramo em ramo.







(continua...)