janeiro 06, 2008

II - O gelo já apareceu na estrada

II – 12 de Fevereiro, o frio continua e o gelo já apareceu na estrada!



-Está tanto frio, mãe! Achas que vai nevar? – Perguntava Maria, enquanto Beatriz a levava à escola.



-Que disparate Maria! Estamos na Trofa. Aqui não neva! Só na Serra da Estrela ou no Gerês… Vá, agora aperta o casaco que não te quero doente!



E lá continuaram o seu caminho em silêncio.



Beatriz era a mãe de Maria. Olhos castanhos, cabelo escuro ligeiramente ondulado e as bochechas sempre vermelhas! Beatriz já há algum tempo que não tinha tanta paciência para Maria. Desde que soubera que estava grávida que só trabalhava. E quando não trabalhava, estava a preparar o quarto para a “chegada” do Jorge. Já não brincava com Maria, já não passeava com ela! Agora só importava o nascimento do Jorge.







Na escola só se falava se iria nevar ou não. Maria e os seus amigos só tinham visto neve nos filmes, em fotografias, mas nunca a tinham sentido! Qual seria a sensação? É tão bonito quando neva! Será que é fofa? Será que é assim tão branca como parece na televisão? Toda a gente lá na escola queria que nevasse!



Já na Livraria…



-Avô, achas que vai nevar? A mãe diz que não, que aqui na Trofa não neva. Mas está tanto frio…até já há gelo na estrada. Viste?



-Vi minha querida! Hoje temos que ter cuidado para não escorregarmos. O gelo é um perigo!



-Mas achas que vai nevar ou não? Eu queria… assim até podia fazer um boneco de neve. Daqueles que aparecem nos filmes, sabes? Grandes, com uma cenoura a fazer de nariz, um gorro e dois ramos para fazer de braços!



-Estás a esquecer-te dos botões na barriga!



-Sim, sim! E três botões na barriga, para fazer de casaco!



-Fazemos assim: se nevar, eu ajudo-te a fazer um boneco desses!



-Olha que eu não me esqueço avô!



-Nem eu, pequenina!



Naquele dia Maria não quis que o Avô lhe falasse de um livro! Apenas lanchou e foi para casa. Só pensava na neve!



-Espero que neve… – Pensava Maria, enquanto esperava impaciente na janela.



Entretanto tocou o telefone. Maria gostava quando isto acontecia. Era a única maneira que tinha de matar as saudades do seu pai. Desde que tinha sido colocado numa empresa na Guarda, que só vinha a casa de vez em quando.



-Sim? – Dizia Maria, impaciente, na esperança que do outro lado da linha lhe respondesse o pai.



-Olá pequenina!



-Pai! Quando é que vens cá a casa?



-Calma, calma. Primeiro diz-me, como é que está tudo por aí?



-Está tudo bem… está muito frio! Acho que até vai nevar, pai!



-A sério? Aqui também está muito frio…



-E a mãe e o Jorge, como estão? A barriga da mãe, já está muito grande?



-Já está um bocadinho! O Jorge deve querer ser jogador de futebol, só sabe dar pontapés. E o quarto dele está quase pronto.



-Ainda bem! E o Avô? Está tudo bem, lá na livraria?



-Sim, sim. Está tudo bem. O Avô disse-me que me ajudava a fazer um boneco de neve!



- Está bem pequenina. Agora tenho que ir trabalhar… Eu vou dando notícias, sim?



-Está bem! Beijinhos, pai!



-Porta-te bem, pequenina!



As conversas nunca demoravam muito, mas serviam para matar as saudades. O pai da Maria não lhe respondia às perguntas difíceis (como ele dizia!), dizia que com o tempo ia saber as respostas a todas as perguntas. Mas Maria nunca gostou de esperar, por isso mesmo, perguntava tudo ao seu Avô!







(Continua)