fevereiro 02, 2008

III - 13 de Fevereiro. Será que é neve...

O dia estava lindo! O céu azul, com pequenas nuvens que mais pareciam bocados de algodão doce a vaguear pelo céu, ao sabor da leve brisa que corria! O dia tinha o aspecto de um dia de verão, só não era, devido ao frio que se fazia sentir e à neve pousada na beira da estrada! Era pouca…mas já era neve!



-Mãe! Mãe! Avô! Nevou durante a noite! Eu disse que ia nevar! – Disse Maria, enquanto espreitava pela janela do seu quarto.



-Neve? Aqui? – Perguntou Beatriz!



- É verdade, filha! Da última vez que me lembro que nevou aqui, era eu da idade da Maria! Nessa altura, nem conhecia a tua mãe…



-Ainda não posso fazer um boneco de neve, pois não Avô?



-Não! Tem que nevar mais…



-Eu espero!



Aos sábados de manhã depois do pequeno-almoço, Maria ia com o seu Avô e com a sua mãe às compras! Depois, enquanto Beatriz fazia o almoço, Maria ia passear com o seu avô. Gostava daqueles momentos pois durante aquele tempo, Maria e o Avô Campos passeavam por caminhos só deles, observando as pessoas e a cidade! Maria gostava principalmente de observar as caras das pessoas enquanto caminhavam. Gostava de tentar adivinhar em que pensavam elas. Se sorriam, era porque estavam contentes, se estavam com a cara fechada, sem brilho nenhum nos olhos, tentava adivinhar os seus motivos. Mas era difícil! Maria dizia que os olhos eram o espelho da vida de cada pessoa. E as pessoas que não tinham brilho nos olhos, não eram felizes! Daí ser difícil captar a atenção delas. Essas pessoas andam isoladas pelo seu mundo e nem reparam no que está à volta delas.



Já sentados no banco habitual do jardim, Maria observava um balão que andava por ali solto ao sabor do vento.



-Avô…para onde é que vão os balões quando os soltamos?



-Isso é uma pergunta difícil… ninguém sabe ao certo!



-Mas tu sabes sempre, avô!



-Não, minha querida! Eu não sei sempre tudo. Aliás, nunca sei tudo. Posso saber algumas coisas…mas ainda me falta muito, para saber tudo!



-E queres saber tudo, Avô?



-Não… as pessoas que pensam que sabem tudo, na realidade não sabem. Na verdade, ninguém sabe tudo! Cada pessoa sabe um bocadinho sobre alguma coisa. Eu não quero saber tudo!



-Porquê?



-Porque se soubesse tudo, era uma pessoa aborrecida! Já não faltava saber mais nada, já não tinha o gosto de aprender novas coisas. Já não ia ter graça, não achas?



-Mais ou menos… Se soubesses tudo, podias-me responder sempre.



-Mas saber tudo não tem graça! Depois de se saber tudo, o que é que há para descobrir?



-Nada…



-Então não achas que estamos melhor assim? Ir aprendendo ao longo dos dias!



-Tens razão! Estamos melhor assim. Mas diz-me lá…para onde vão os balões?



-Vão para todo o lado. São como as folhas, deixam-se levar pelo vento e fazem a viagem da vida deles!



-É por isso que mal os largamos, fogem… têm pressa, não é?



-Sim! Têm pressa de ver como é o mundo. Querem voar ao sabor do vento, ir onde o vento os leva. Ver novas coisas, respirar um ar diferente…olhar o mundo de uma outra perspectiva!



-Também quero ver o mundo de uma maneira diferente…



-E já o vês, Maria! Os “pequeninos” vêm o mundo de maneira diferente da dos adultos. Vêm o mundo com outras cores, com outros cheiros…de uma maneira diferente! Dão ao mundo um brilho especial. Os adultos têm a mania que já conhecem o mundo todo, por viverem nele à bastante tempo…e tiram o brilho à maneira de verem o mundo. Nunca ouviste dizer que a melhor maneira de crescer é a viajar? Ver as coisas de outro modo.



-Não! Mas Avô…então não vou crescer?! Eu não viajo…



-Viajas sim! Todos os dias viajas pelo teu mundo: o mundo dos sonhos! Vês o mundo de outra maneira, não vês?



-Isso também é viajar?



-Claro que sim! Desde que vejas as coisas de outra maneira, já estás a viajar. Nem que seja pelo teu próprio mundo.



-Sendo assim já percebo os balões!



-E se fossemos comprar um?



-Sim! Vamos deixá-lo ver o mundo de outra maneira!